Bruna Beber

Bruna Beber

Futuro do pretérito

“A cidade é Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro, 1990. Nosso presidente, Lula, não tinha sido eleito. Estamos na cozinha da casa da minha avó Irlanda, depois do almoço de seu aniversário de 50 anos: galinha com quiabo e angu. De colete e uniforme da Transportes Flores, o saudosíssimo tio Manoel; ressabiada, minha prima Juliana; dedo em riste e broche da CUT, Kelcia, tia que me ensinou a amar os livros. Não sei quem tirou a fotografia, só tínhamos uma câmera na família, por isso a oportunidade do registro merecia ensaio e atenção. O combinado foi – eu lembro – ‘vamos tirar uma foto de gangue?’. Gostava de tomar banho de mangueira, roubar goiaba da vizinha, descer o morro de patinete e dormir alaranjada de mercúrio cromo. Pro futuro, queria ter minha própria goiabeira e uma namorada. Hoje, pro futuro, além de um país, desejo redescobrir ‘a força secreta daquela alegria’, essa daí.”

::

Quais são as suas expectativas ou desejos para o futuro? Como você o imaginava quando era criança? A cada semana, convidamos uma pessoa a responder essas perguntas como parte da nossa Temporada no Futuro. Acompanhe!

::

Bruna Beber é poeta, tradutora e mestre em teoria e história literária pela Unicamp. Publicou “A fila sem fim dos demônios descontentes” (2006), “Balés” (2009), “Rapapés & apupos” (2012), “Zebrosinha” (2013), “Rua da Padaria” (2013) e “Ladainha” (2017).


Voltar para índice da Temporada