Jim Anotsu

Jim Anotsu

Futuro do pretérito

“Quando eu era criança, no interior de Minas Gerais, nos cantos infinitos de Itaúna, o futuro parecia coisa longe, coisa de cinema e televisão. Certamente o futuro não era rua de calçamento, o uniforme da escola nem a novela das oito. O futuro, na minha cabeça, seria que nem filme norte-americano: teria laser, nave espacial e roupa prateada. Seria um futuro fashionista, estilo Alexander McQueen com Iris van Herpen, todo feito de formas disformes. 

No entanto, seria também um futuro tranquilo, um futuro inteiro, nunca meado, porque ninguém mataria ou morreria nesse futuro, muito menos morreria de fome ou mataria pra não morrer de fome. No meu futuro todo mundo seria o que quisesse: astronauta, pedreiro, Papa, engenheiro, pescador ou lenhador. O branco brincaria com a criança preta e o adulto veria isso como sendo apenas o que é: uma brincadeira. Por isso, quando penso no futuro que desejo agora, vejo que o homem crescido de hoje quer o mesmo que a criança de isturdia.”

Quando você era criança, como imaginava o futuro? E como é o futuro que você quer agora? Como parte da nossa Temporada no Futuro, compartilhamos semanalmente as lembranças e expectativas que escritores, músicos e artistas tinham na infância em relação ao futuro, mostrando assim como a ideia do porvir se transforma com o tempo e como pode ser bom revisitar o passado para imaginar outras possibilidades.

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Jim Anotsu é escritor, tradutor e roteirista de cinema, TV e publicidade. Seus livros estão publicados em mais de dez países e em vários idiomas. Entre outros títulos, é autor de “Rani e o sino da divisão” (2014), “A espada de Herobrine” (2015), “A batalha do Acampamonstro” (2018) e “O serviço de entregas monstruosas” (2021).


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