Marília Flôor Kosby

Marília Flôor Kosby

futuro do pretérito

“Nessa foto eu estou montando o cavalo oveiro Cilicão. Era um velho e manso cavalo do meu avô Sylvio. Meu irmão mais novo, o Sylvinho, está montando seu petiço, Poço Negro. Nessa época, com uns 8 anos de idade, eu pensava que, se o futuro fosse um lugar melhor, seria aquele em que mulheres são protagonistas de suas vidas, de suas narrativas. Hoje, aos 37 anos, já alcanço os pés nos estribos, mas minha ideia de futuro ideal é ainda aquela imaginação de criança, se equilibrando sobre o lombo ossudo do animal. Com a diferença de que, agora, afastada dos bichos, percebo que o protagonismo almejado por nós só nos trará a vivacidade de que precisamos – de que o planeta precisa – se for compartilhado com nossas cúmplices de espécies outras de viventes. O futuro possível é esvaziado de ícones, de centauros, estátuas de genocidas e obeliscos; vejo o futuro possível arquitetado pela inteligência vívida das legiões, de exus, de abelhas, de nômades, de golondrinas, liquens, ervas, espíritos das matas.”

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Quando você era criança, como imaginava o futuro? E como é o futuro que você quer agora? Como parte da Temporada no Futuro, a cada semana compartilhamos as lembranças e os anseios de convidados.

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Marília Floôr Kosby é poeta e antropóloga, com doutorado em antropologia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem poemas publicados em coletâneas e revistas de literatura e arte. É autora de “Os baobás do fim do mundo” (2011), em parceria com o artista plástico Zé Darci, “Siete colores e Um pote cheio de acasos” (2013) e “Mugido (ou o diário de uma doula)” (2017) — finalista do Prêmio Jabuti —, que acaba de ganhar uma nova edição.


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