"Vote num homem sério e ganhe seu cemitério."
Um político paroquial e corrupto. Parece real, mas é ficção – pelo menos, neste caso. Às vésperas do segundo turno de uma das mais importantes eleições da nossa história recente, concluímos a Temporada contra a tirania com O Bem-Amado, de Dias Gomes (1922-1999), cujo centenário é celebrado neste mês de outubro.
O prefeito Odorico Paraguaçu não mede esforços para se dar bem. Em Sucupira, um pacífico lugarejo do interior nordestino, resolve usar a construção de um cemitério como principal plataforma política. Odorico se elege, mas, depois que inaugura o cemitério, nenhuma morte é registrada na cidade.
O protagonista da peça, cuja adaptação para a TV fez enorme sucesso no Brasil no fim da ditadura, encarna um perfil satírico, em sua pretensão de grandeza, provocando riso no espectador, que reconhece ali comportamentos impróprios mas muito familiares ao universo político brasileiro. É a tirania advinda de um governo legítimo, mas ainda assim injusto e cruel, o que, infelizmente, casa com o momento político do Brasil.
