Descrição
À maneira desigual e combinada, o Brasil de Bolsonaro, neste primeiro ano de governo neofascista, se moderniza e se torna cada vez mais desigual, exibindo todo o caráter recente e simultaneamente decrépito do nosso capitalismo financeirizado, digital e on demand. As altas dosagens de machismo, homofobia e militarismo ajudam a conservar ativa e funcional a velha plantation, e, por detrás da máscara do moderno empreendedor e ativista da filantropia, não há senão o tacanho, sórdido e vetusto rosto do senhor de engenho de antanho. Se o futuro proposto por esses velhos-novos senhores é, em uma palavra, uma barbárie moderna (ou um futuro bárbaro), cabe então aos escravos do tempo presente a tarefa de construir um verdadeiro amanhã, no qual armas, opressões e Bolsonaros não poderão ter lugar senão nos livros e museus de História.
Essa hercúlea tarefa, para que seja ao menos tentada a sério, não pode prescindir de uma interpretação rigorosa do processoreal, à escala estrutural e conjuntural, o que em linguagem marxista se costuma chamar de uma análise concreta de uma situação concreta. De modo lacunar e certamente dotado de imperfeições, é isso que, modestamente, a presente coletânea pretende oferecer ao leitor. Composta por artigos escritos no calor de um torvelino de acontecimentos, esta pequena obra tem como objeto de investigação justamente o governo neofascista de Bolsonaro em seu primeiro ano – trágico e nada monótono, arriscamos dizer. A multiplicidade de fatos, questões e aspectos presentes neste início de governo praticamente impele seus eventuais intérpretes a fazer opções temáticas e recortes analíticos, dos quais evidentemente não pudemos escapar. Nesse sentido, o conjunto das reflexões aqui contidas oferece uma entre várias interpretações possíveis dentro da perspectiva marxista acerca do primeiro ano do neofascismo brasileiro no poder. A partir dos autores e assuntos selecionados, escolhemos um caminho interpretativo do governo Bolsonaro que nos pareceu, por ora, o mais interessante – cientes, claro, de que, ao menos nesse caso, o caminho não é um só.
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