Descrição
Guerra cultural e retórica do ódio é um ensaio escrito em prosa literária e que oferece uma descrição inovadora do bolsonarismo, entendido em sua dinâmica própria. Um dos pontos altos do livro é a análise da escalada golpista nos meses de abril e maio de 2020, assim como a previsão de novas tentativas, intrínsecas ao projeto autoritário. O bolsonarismo implica uma visão de mundo bélica, expressa numa linguagem específica, a retórica do ódio, e codificada numa estrutura de pensamento coesa, composta por labirínticas teorias conspiratórias. O livro desvenda cada um desses elementos. A visão de mundo bélica supõe a atualização da Lei de Segurança Nacional (LSN) em tempos democráticos – e são ameaçadoras as consequências desse gesto. Durante a formação do jovem militar Jair Messias Bolsonaro, estava vigente a LSN promulgada em 1969. Em seus 107 artigos, o substantivo morte aparece 32 vezes e 15 artigos prescreviam a pena de morte. O eixo dessa LSN era a identificação do inimigo interno e sua eliminação imediata. Eis aí o cerne da mentalidade bolsonarista. No entanto, como identificar com segurança o inimigo? Orvil, o projeto secreto do Exército, concluído em 1988, esclarece: trata-se do comunismo, do “perigo vermelho” e sua incomum capacidade de infiltração por meio do aparelhamento das instituições. No século XXI, a receita teve acréscimos com a pauta reacionária dos costumes, corporificada na crítica à “ideologia de gênero”. Daí, o modelo desastroso de um governo enquanto arquitetura da destruição, pois é como se destruir instituições “aparelhadas” fosse mais importante do que governar. Rumo à estação Brasília, o que faltava? Linguagem: a retórica do ódio; o idioma do sistema de crenças Olavo de Carvalho. A retórica do ódio é a mais completa tradução da LSN de 1969, limitando o outro ao papel de inimigo a ser destruído. É o reino desencantado do vale-tudo travestido de filosofices, xingamentos e desqualificações. O resultado: caos cognitivo, analfabetismo ideológico e a idiotia erudita: elementos que definem as massas digitais bolsonaristas, criadoras da pólis pós-política. O livro propõe uma série de conceitos novos, a fim de criar linguagem para dar conta da complexidade do agônico cenário contemporâneo. A produção da direita e da extrema-direita é analisada em detalhes, incluindo livros, artigos, textos de blogs, vídeos, documentários, postagens nas redes sociais, num esforço inédito para a caracterização da retórica extremista. O autor desenvolveu um método para lidar com esse material: a etnografia textual, com o objetivo de reconstruir a lógica própria a seus discursos. O olhar etnográfico se completa na proposta de uma ética do diálogo, que valoriza a diferença como fonte de enriquecimento. O autor formula o paradoxo que anuncia um colapso: o êxito do bolsonarismo significa o fracasso do governo Bolsonaro. Sem guerra cultural, não se mantém as massas digitais mobilizadas em constante excitação; contudo, a guerra cultural, pela negação de dados objetivos, não permite que se administre a coisa pública. Por fim, no post-scriptum o autor analisa a fracassada escalada golpista de Donald Trump, mostrando os limites dos “fatos alternativos” diante de um Judiciário independente; salvo engano, lição fundamental para o Brasil de Jair Messias Bolsonaro. O livro conta ainda com um posfácio do jovem editor e historiador Cláudio Ribeiro intitulado “‘Da urgência do agora à caracterização da ágora’: o momento etnográfico de João Cezar de Castro Rocha”, apresentando uma reflexão acerca da metodologia inovadora do autor em relação às preocupações desenvolvidas desde seu primeiro livro, Literatura e cordialidade: o público e o privado na cultura brasileira (1998). Guerra cultural e retórica do ódio é um livro que permitirá entender a cena brasileira atual com novos olhos: um ensaio urgente, no calor da hora.
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